Karl max
César Benjamin
Texto publicado na Alemanha em uma coletânea de artigos sobre os impasses teóricos da esquerda mundial.
O título original era “Caminhos da transformação”.
1. A história da modernidade é a história da formação, pela primeira vez, de um sistema-mundo. Nos últimos quinhentos anos, os antigos subsistemas humanos, que existiram em relativo isolamento durante milênios, foram unificados em um novo sistema muito mais amplo. Essa unificação foi feita por meio da incorporação de áreas e povos ao controle e influência do antigo subsistema europeu.
Nenhuma sociedade humana ficou imune ao transbordamento da história européia em história mundial. As sociedades do Hemisfério Americano foram violentamente desestruturadas, e o que restou delas foi reincorporado como pólo fornecedor de metais preciosos, outros minérios, bens agrícolas ou força de trabalho.
Nas sociedades africanas, a prática da escravidão, preexistente, se disseminou amplamente a partir do momento em que os circuitos mercantis em expansão passaram a demandar quantidades crescentes de mão-de-obra. Os grandes Estados asiáticos, via de regra, tornaram-se colônias e assim permaneceram, de fato ou de direito, até o século XX.
Todas essas áreas, que sempre abrigaram a grande maioria da humanidade, vieram a formar a periferia do moderno sistema-mundo.
2. Como não poderia deixar de ser, os agentes e promotores das transformações construíram suas próprias maneiras de compreender e conferir sentido ao que faziam. Primeiro foi a difusão do cristianismo, mas ela correspondia à consciência de um tempo histórico que estava sendo ultrapassado. Logo veio uma consciência nova. A sociedade burguesa entendeu que sua vocação era expandir-se e revolucionar o planeta. A humanidade inteira caberia nela. Pela primeira vez, a história passou a ser concebida como um processo, e a filosofia da história permitiu o planejamento utópico do futuro. A catastrófica