Kahunas 3
Lanakila Brandt, filho de pai europeu e mãe havaiana, conta: “um dia, andando de jeep com um amigo inglês numa plantação de abacaxi, nosso carro capotou e ele quebrou a mão. Levei-o ao hospital e avisei a mulher havaiana.
Esta, furiosa, tirou o marido logo das mãos do médico e o levou à famosa curadora Endiaida, uma Kahuna ‘Lapa’au’. Ela mandou quebrar o gesso e começou a tradicional cerimônia de cura polinésia. Apesar de proibida oficialmente, os havaianos costumavam procurá-la, ou recorriam a outro kahuna clandestino.
Endiaida usou água benta e rezas, repetiu a cerimônia três vezes e pediu ao paciente que levantasse uma cadeira com a mão quebrada. Para espanto do inglês, sua mão estava bem.
Duas foram as conseqüências: meu amigo, imprudente, mostrou a mão curada no hospital, o médico acusou Endiaida de ser curandeira e ela foi multada em 2000 dólares, uma fortuna na época. A outra: eu me tornei discípulo de Endiaida.
Aprendi a carregar-me de mana e a projetá-lo a um corpo doente, ao coração, ao pulmão. O mana é uma força divina. Através dela a cura acontece. Claro, Deus é o curador, não eu. Huna não é terapia alternativa, é cura espiritual. Existe em muitas culturas”.
Lanakila continua: “Antes da vinda dos brancos, a arte da cura estava no auge. Havia especialistas para ‘endireitar’ ossos, curar com ervas e pedras, realizar operações e imposição de mãos, inclusive para harmonizar problemas familiares. As lendas contam de curas instantâneas e até de ressuscitar pessoas aparentemente mortas.
A palavra Huna já foi traduzida como segredo, quando significa oculto, a parte encoberta e não revelada da espiritualidade havaiana.
Um dia, em 1967, meus amigos advertiram: ‘sabe que, ao curar, você está fazendo algo ilegal’? Então, eu e outros Kahunas ainda atuantes começamos uma ação para cancelar as antigas proibições dos missionários, ainda vigentes. Tivemos sucesso. As leis contra a religião havaiana foram