juliete
Parafraseando o personagem Rick Blaine de Casablanca: de todos os cafés, de todas as cidades, no mundo todo, ela entra logo no meu. Chorando, ainda por cima. Sei lá eu por quê.
A conversa então transcorre como jazz, mesmo às vezes suas opiniões incorrendo na velha ladainha de sempre, de que tudo é como é em decorrência do machismo. Não importa qual o tópico em discussão, se Ross e Rachel estavam mesmo dando um tempo naquele episódio de Friends em que ele dorme com outra, ou então, sei eu, se formigas têm ou não cotovelos. No mais, ela é bem agradável e perfumada. Lá fora, o vento mudou de hálito.
Ela gosta de Phil Collins, faz Psicologia pelo mesmo motivo que leva 99% das estudantes da área a ingressar na tal ciência: queria antes se entender. Eu brinco sardonicamente, tentando imaginar onde se enfiarão seus pacientes, já que ela se refugia dos problemas em cafés, às dez da noite, quase onze, papeando sobre sua infância e filmes favoritos com rapazes pobres e estranhos e metidos a escritor. Ela ri. E me olha furtivamente, às vezes como quem paquera uma torta ganach de frutas silvestres exposto além da vidraça no balcão. Eu sirvo uma parte de torta, ela nega, eu insisto, é por conta da casa.
– Nossa, você realmente quer me comer, né? – ela me provoca. E gargalha com a mãozinha no meu ombro. Eu também dou umas risadas, embora não veja graça na verdade assim, nua e crua. Mas é claro que quero. Quem não iria querer?
Curiosamente, a garota não ri daquela forma áspera de fêmea deixando claro que seus cromossomos são absolutamente incompatíveis. A anedota e a risada são um jeito descolado de traduzir a atmosfera do encontro com um pouco de sadismo, admitindo a hipótese, e quebrando o gelo crostado sobre ela. Estou deixando ela falar de si mesma, como uma arapuca pra envolvê-la, como um caçador mirim atrai rolinhas indefesas e com asas contundidas.
Então a noite conflui para uma aproximação entre nós. Suas risadinhas deixam claro que o envolvimento