josef mengele
Josef Mengele é uma das figuras mais emblemáticas e, talvez, enigmáticas da violência do século XX, a qual praticou atuando como médico no campo de Auschwitz. Apesar de seu nome estar estreitamente ligado aos crimes mais sádicos, era uma pessoa aparentemente cultivada, bem formada e sem visíveis anormalidades psíquicas ou sociais. O fato de ele ter deixado escritos autobiográficos proporciona uma ocasião para analisar a mentalidade de um perpetrador exemplar dos crimes realizados no abrigo de um Estado moderno e de uma sociedade que, até então, era considerada uma das mais civilizadas da Europa. Como uma pessoa inteligente e - nos conceitos da época - cultivada consegue reconciliar os atos mais cruéis e violentos com a imagem que tem de si mesmo? Partimos do fato de que Mengele escreveu seus textos em liberdade, sem necessidade de esquivar-se à Justiça e sem obrigação de considerar uma opinião pública que condenava seus atos. Diferentemente de outras justificativas posteriores de perpetradores nazistas, essa condição permite-lhe expressar com maior franqueza sua própria avaliação da sua vida e dos seus atos. E isso nos parece uma oportunidade para analisar mais facilmente os motivos que, de fato, dominam seu pensamento. Resumo da vida
Nascido em 1911 e primeiro filho de uma família burguesa, católica, de fabricantes de máquinas agrárias2 no sul da Alemanha, Mengele iniciou os estudos de medicina e de antropologia em 1930, fez doutorado nas duas disciplinas. Tornou-se membro do partido nazista somente em 1937, e da SS, em 1938. Em 1941 foi para a frente russa como médico da SS e, de maio de 1943 até janeiro de 1945, atuou como um dos médicos do campo de Auschwitz, onde executou, segundo o testemunho de muitos sobreviventes, seleções para as câmaras de gás e para seus experimentos brutais, particularmente com gêmeos. Após a capitulação, Mengele conseguiu esconder-se, trabalhando num sítio na Bavária. Em 1949 fugiu na "Linha de ratos" (ratlines)