JOGAR FERRAMENTA PARA CONECTAR
Por Livia Deorsola
Reconhecer o papel do inconsciente e do sensível na relação do indivíduo com o mundo através de exercícios teatrais é o projeto que o francês Jean-Pierre Ryngaert leva adiante em seu livro Jogar, representar – práticas dramáticas e formação. Ao questionar as formas tradicionais do teatro, cuja prática subjuga os atores à palavra final de um diretor e a um roteiro pré-estabelecido, a obra derruba as fronteiras entre atores e os chamados “não-atores”: todos, sem distinção, seriam capazes de desenvolver a habilidade de jogar.
Professor da Universidade de Paris III e autor do também importante O jogo dramático no meio escolar (1977), Ryngaert tem papel decisivo na renovação das experiências neste campo em diversas partes do mundo. Na entrevista a seguir, ele comenta como as improvisações podem dar vazão a novas formas de narrativa e sobre a dinâmica entre espaços sociais e práticas artísticas alternativas, além de falar sobre sua forte ligação com o Brasil.
O que o levou a questionar as práticas teatrais tradicionais? Desde que se iniciou o debate sobre o jogo dramático, acredita que as escolas de teatro abriram mais espaço para a autonomia do ator?
Durante minha formação, sempre estive em contato com a educação – por algum tempo fui professor no ensino fundamental e médio, além de também ter atuado como ator, no Canadá. Tinha dificuldade para escolher entre esses dois centros de interesse. Como professor, naturalmente buscava formas de jogo teatral que pudessem envolver os alunos, com a preocupação de não excluir ninguém: deve-se trabalhar com todos, seja qual for o nível de cada um. Minha intenção não era agir como um demagogo: não se trata de dizer que todos são formidáveis, mas é preciso estar atento à maneira como cada um pode se desenvolver. Esta postura faz com que se coloque em xeque (não sou o primeiro nem o último a fazê-lo) um certo número de práticas teatrais tradicionais.
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