jiuy
• Poema da Necessidade
É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbado, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar O FIM DO MUNDO.
• Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
• Dentaduras duplas
Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho para merecer-vos...
Há que contentar-me com uma ponte móvel e esparsas coroas.
(Coroas sem reino, os reinos protéticos de onde proviestes quando produzirão a tripla dentadura, dentadura múltipla, a serra mecânica, sempre desejada, jamais possuída, que acabará com o tédio da boca, a boca que beija, a boca romântica?...)
Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras, engenhos modernos, práticos, higiênicos, a vida habitável: a boca mordendo, os delirantes lábios apenas entreabertos num sorriso técnico e a língua especiosa através dos dentes buscando outra língua, afinal sossegada...
A serra mecânica não tritura amor.
E todos os dentes