Jazz

Jazz. É isso que ele está ouvindo agora e que ouviu a madrugada inteira. Sai do banheiro. Dentes escovados, não há suspeita alguma que ele bebeu durante horas. Cozinha. Faz um café, nada mais necessário neste momento. “Agora, e na hora de nossa morte, Amém” Foi isso que disseram a ele quando criança. Ele acreditou. Seria mentira se dissesse que não acredita mais. Ele está pensativo no momento. Pensando no amor, na saudade. E na quantidade de açúcar que está colocando no café. Chega. Não precisa de mais estimulantes além da cafeína, afinal, tem que trabalhar logo mais. Pausa a música e pega seu saxofone. O jazz representa seu interior nessa madrugada. Enche as ruas com uma melodia triste até gritos sonolentos o mandarem parar. Pega um papel, assim não atrapalha ninguém e rabisca algo. Não sabe desenhar porcaria alguma, mas acha que sabe.

Deveria ficar só na escrita, isso ele faz bem. Mas cansou de escrever para os ignorantes que sempre estão certos, afinal, ele vive no mundo da lua e pouco sabe de algo. Uma madrugada com insônia não é simplesmente passa-la acordado – para isso há outras definições. As horas vão se arrastando lentamente e a luz do dia entra na sua sala e começa toda agitação do dia-a-dia na rua. Pena que é só a TV ligada que pode deixar no mudo.

A dor de cabeça e do estômago aumentam. Ah, não comentei que ele tinha gastrite? Pois sim. Culpa do vício por café... Não toma mais remédios, pois pouco ajudam. Pega mais uma xícara de café e se joga na cama. Ser depressivo é ok, mas sentir prazer na depressão é masoquismo e como bom poeta que é, isso é patético, deixa a xícara cair no chão.

Nosso herói particular pensa muito. Só faz pensar. Ele morre aos poucos, reclama sempre. Ele sente, ele ama. Ele vive, ou acha que vive. Reclama por não ter a certeza do amanhã - a do hoje não é suficiente pra ele. As coisas não são como ele queria que fossem, e se sente mal por isso.

Os livros não lhe servem pra nada, só rascunhos. Isso pode significar algo