Jakobson 1954 Dois Aspectos
LINGÜÍSTICA
E
COMUNICAÇÃO
Prefácio de
IZIDORO BLIKSTEIN
(da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e da Escola de
Comunicações e Artes da USP)
Tradução de
IZIDORO BLIKSTEIN e JOSÉ PAULO PAES
EDITORA CULTRIX
SÃO PAULO
D O IS ASP E C T OS D A L I N G U A G E M
E D O IS T IPOS D E A F ASI A
I — A A F ASI A C O M O PR O B L E M A L I N G Ü ÍST I C O
Se a afasia é uma perturbação da linguagem, como o próprio termo sugere, segue-se daí que toda descrição e classificação das perturbações afásicas deve começar pela questão de saber quais aspectos da linguagem são prejudicados nas diferentes espécies de tal desordem. Esse problema. abordado há já muito tempo por
Hughlings Jackson.1 não pode ser resolvido sem a participação de lingüistas profissionais familiarizados com a estrutura e o funcionamento da linguagem.
Para estudar, de modo adequado, qualquer ruptura nas comunicações, devemos, primeiro, compreender a natureza e a estrutura do modo particular de comunicação que cessou de funcionar. A Lingüística interessa-se pela linguagem em todos os seus aspectos — pela linguagem em ato, pela linguagem em evolução,2 pela linguagem em estado nascente, pela linguagem em dissolução.
Atualmente, há psicopatologistas que dão grande importância aos problemas lingüísticos relacionados com o estudo [pág.34] das perturbações de linguagem;3 algumas dessas questões foram versadas nos melhores tratados recentemente publicados acerca da afasia.4 Entretanto, na maioria dos casos, essa legítima insistência na contribuição dos lingüistas às pesquisas sobre a afasia é ainda ignorada. Um livro recente, por exemplo, que trata extensamente das complexas e múltiplas implicações da afasia infantil, faz um apelo em prol da coordenação de várias disciplinas e reclama a cooperação de otorrinolaringologistas, pediatras, audiólogos, psiquiatras e educadores; todavia, a ciência da linguagem passa em silêncio como se as perturbações da percepção da fala não tivessem nada a ver