Jade C
Baseado em fatos reais
olho por olho, dente por dente
Parecia mais um dia comum para Benjamin e Glória naquele triste verão de 1968.
Sexta-feira, 13 dezembro. O casal acorda sem pressa de levantar da cama. Os dois se abraçam, fazia tempo que não ficavam assim, juntinhos. Tantas reuniões, tantas tarefas que mantinham ambos ocupados que às vezes sequer pareciam um casal. Os minutos passam e Benjamin se levanta. Ele esquenta a água para preparar o café, enquanto ela se arruma para comprar o pão francês quentinho e a edição do dia do Jornal do Brasil.
Benjamin só saía de seu apartamento para compromissos sérios. Reuniões do grupo, manifestações ou alguma ação importante. Abandonara a família e a faculdade, pois era um dos estudantes considerados subversivos pelo regime, mais tarde inclusive enquadrado na lista de “alta periculosidade”, junto com sua companheira.
Sexta-feira 13 de dezembro, Glória sai do pequeno apartamento clandestino de
Benjamin no bairro do Lins, o “aparelho” como costumavam chamar, e caminha em direção à esquina para comprar o pão e o jornal. Não era mais um dia comum, enganaram-se. Glória volta da banca de jornais em passos acelerados, pálida, com um semblante tão abatido que quase deixara feio um rosto que era tão bonito.
Sexta-feira 13 de dezembro e o jornal anunciava que o país estaria sendo varrido por fortes ventos. Naquele dia de verão a temperatura estava negra e o ar irrespirável.
Glória retorna ao apartamento, ambos folheiam cuidadosamente o jornal.
“Governo baixa Ato Institucional e coloca congresso em recesso por tempo ilimitado” era o que dizia na manchete.
Cada folha virada, cada frase lida parecia um golpe na cabeça do casal, estavam incrédulos.
Suspensão de direitos políticos, recesso do congresso, suspensão de habeas corpus à quem fosse preso por crimes políticos, proibição de manifestações, liberdade vigiada... era como dormir no inferno e ter um pesadelo. Um pesadelo dentro de um