Jackes
A natureza da firma contemporânea:
O problema da governança corporativa à luz da história do pensamento econômico1
Jaques Kerstenetzky*
Resumo – O artigo resume a natureza da firma de acordo com diferentes abordagens da história do pensamento econômico, agrupando-as em duas classes: perspectivas de eficiência (alocativas) e perspectivas de crescimento
(acumulativas). Em seguida examina contribuições que têm na sociedade anônima do século XX o seu objeto de análise, destacando suas relações com o momento histórico e enquadrando-as na proposta dicotômica desenvolvida no início do artigo. Conclui com observações críticas.
Palavras-chave – sociedade anônima; governança corporativa; teoria da firma
JEL – B00; D23;L20;N80
É de longa data que as sociedades anônimas despertam manifestações críticas, sendo já Adam Smith um de seus juízes. Mas apenas no último século, com a importância e a extensão que assume essa forma de organização na indústria norte-americana2 e com a sua difusão, que a discussão se avolumou e adensou.
Boa parte da literatura então produzida sobre o tema se preocupa com o problema da separação de propriedade e controle ou, mais modernamente, da governança corporativa.3
De um modo ou de outro, o que está em jogo é a qualidade da gestão de firmas por gerentes que não são proprietários do capital, ou que são proprietários apenas de parte negligenciável dele. No entanto, as proposições normativas que pretendem guiar a gestão de sociedades anônimas começam a influenciar também empresas juridicamente organizadas de outra forma, promovendo uma generalização de critérios de boa prática gerencial, de tal modo que a matéria aqui discutida ga* Professor Adjunto do Instituto de Economia – UFRJ. Av. Pasteur 250. Rio de Janeiro-RJ; e-mail:jkersten@ufrj.br. Econômica, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 209-238, dezembro 2007
210 • A NATUREZA
DA
FIRMA CONTEMPORÂNEA
nha significação em um campo mais amplo