Isadora e João (conto) João cantava feito um passarinho, toda vez que via Isadora. Era Isadora daqui, era Isadora de lá. Se fechava os olhos, lá estava ela. Se olhava o mais longe que podia, era ela quem estava lá. Um dia, João planejou um dia perfeito. Acordou bem cedinho pra ver sol nascer; o sol disse-lhe bom dia. Fez que era bem jovem, cantou hinos ao céu, louvou a Deus com seu sorriso. Tudo parecia repleto de vida e de vida e de vida e de mais. A mensagem para Isadora eram agora versos e versos. Cobriu-a de promessas de beijos que o desejo que toda mulher que ama pede pedia para despertar. Encontraram-se no toque cálido da mão; a princesa que chora e o cavaleiro cristão: ela e ele, Isadora e João. Saborearam juntos o gosto do amor que invade os olhos dos que se olham nos olhos bem de perto e a sombra de um jequitibá branco e o prazer do sangue descendo à região gastrointestinal: prazer pós-digestão quase não percebido. Isso sem dizer do que João dizia. Cada medo de Isadora era uma resposta que João tinha. Cada Isadora que João via vinha a mesma, voluptuosa e pequenina: verdade, vento voraz da vingança contra a vil vaidade da solidão. Entardeceram-se em calor, supriram-se ambos de si mesmos, repletos de sim. As mãos de João eram de Isadora o rosto e a curvatura das orelhas. As mãos de Isadora eram os cabelos de João. Os cabelos de João eram suspiros e doces palavras aos pés dos ouvidos daquela face daquela mulher que ele tanto amava. Isadora sorriu lindo. João chorou fofo. Os dois descobriram um beijo que mexe com a boca de quem beija e beija a alma de quem descobre. E assim foi que o dia de João foi Isadorado de um sabor outro que parecia imune a todos os séculos. E quem que disse que o João queria ouvir que Isadora precisava ir e respirar o hálito fresco da liberdade? Eis que todo o seu anseio era cultivar nos olhos de Isadora um lírio todo alegria que jamais brotou dos vales e ver as noites passarem nas estrelinhas das pupilas dos seus olhinhos tão