Invasoes barbaras
A flexibilidade do tempo requer uma flexibilização também do caráter, caracterizada pela ausência de apego temporal a longo prazo e pela tolerância com a fragmentação. Por esta razão Sennett argumenta que o trabalho flexível leva a um processo de degradação dos trabalhadores de ofício, pois com a introdução de novas tecnologias organizacionais, o trabalho tornou-se fácil, superficial e ilegível. Exemplifica com o caso dos padeiros de Boston que há vinte e cinco anos, na sua maioria, eram gregos e filhos de padeiros, sendo o seu trabalho caracterizado pelo contato direto com a massa do pão, com o calor dos fornos e o desgaste físico que a atividade exigia. Atualmente a padaria transformou-se numa delicatessen, fundamentada nos princípios da organização flexível, e socialmente não é mais um “estabelecimento grego”.
Além disso, com a automação da padaria o pão tornou-se virtual, uma representação de tela para os padeiros, tendo como conseqüência a ilegibilidade da sua própria atividade realizada no referido estabelecimento, onde o trabalho tornara-se degradante porque não era mais necessário fazer pão ou ser padeiro; os laços sociais com o trabalho são rompidos, há uma perda de identidade social que o “ser padeiro” lhes conferia.
No regime flexível as dificuldades sempre se consolidam no ato de correr riscos, as próprias incertezas das organizações flexíveis impõem aos trabalhadores correrem riscos com seus trabalhos, colocando em prova o caráter pessoal. A nova ordem concentra-se na capacidade imediata, não leva em conta que acumulação dá sentido e direito às pessoas; e daí a preferência do capitalismo pelos mais jovens, por serem mais adaptáveis às formas flexíveis de trabalho. Os riscos, além de colocar em questão o senso de caráter, propiciam aos indivíduos um sentimento de esvaziamento completo em todos os sentidos (moral, social,