Intolerância
JORNAL ZERO HORA - PORTO ALEGRE
Psicanalista e professor afirma que reservamos nossas emoções mais virulentas não aos extremamente diferentes, mas aos que mais nos lembram e nos ameaçam por alguma semelhança. por Letícia Duarte
04/10/2014 | 15h01
Autor do livro Raízes da Intolerância, que será lançado em novembro pela editora EdUfscar, o professor da Universidade Federal de São Carlos e psicanalista João Angelo Fantini vira do avesso o senso comum.
Com base na teoria psicanalítica, afirma que reservamos nossas emoções mais virulentas não aos extremamente diferentes, mas aos que mais nos lembram e nos ameaçam por alguma semelhança. Confira a seguir uma síntese da entrevista, concedida por e-mail:
Leia mais:
>>> Por que o clima beligerante parece impedir o diálogo no Brasil
>>> Ingrid Haas: "A intolerância política está relacionada a sentimentos de incerteza"
O que explicaria a aparente exacerbação da intolerância na contemporaneidade?
A intolerância é praticada sob a crença de que se faz isso a partir de uma ‘verdade’. Seja nas guerras (a Guerra Justa dos romanos – e, por que não, dos americanos e fundamentalistas, que colocam Deus do “nosso” lado), ou entre torcidas, vizinhos, casais. O que a psicanálise oferece para além das razões históricas para pensar a intolerância é uma fórmula inversa: nosso ódio ao outro não é fruto do fato deste outro ser “menos”, mas de ter alguma coisa que o sujeito intolerante acredita que o outro possui a mais! Como a crença na superpotência sexual dos negros. Um exemplo no caso do racismo: se estudamos as execuções da Ku Klux Klan nos Estados Unidos, a maioria era justificada como “crimes de natureza sexual”, isto é, os mais íntimos desejos reprimidos, sádicos e masoquistas foram exteriorizados e projetados sobre o negro (lembrando que os homens eram enforcados e muitas das mulheres estupradas por esse grupo). Voltando ao goleiro e à torcedora: