Inspiração Divina e Inteligência Humana na Obra de Adélia Prado - um estudo sobre sua obra recente A densa nevoa da linguagem e orvalho da poesia
Prado - um estudo sobre sua obra recente1
A densa nevoa da linguagem e orvalho da poesia
Cecília Canalle
Mestre em Educação - FEUSP canalle@uol.com.br 1. Arte como vocação divina
"Teodoro falou uma coisa alinhada de perfeita:
'a vocação é um afeto'. "
Adélia Prado 2
Muitos escritores apresentam fases. Fases temáticas, fases relativas à forma, fase relativas à época. Adélia Prado, interessantemente, parece não tê-las. Sua obra é una. Sabe a que vem, em que reside sua qualidade e qual seu tema. Desde o primeiro livro, Adélia tem assinatura.
A um leitor ou crítico desatento, surgiriam frases indicando uma possível repetição. Ledo engano. Há que se discernir entre o que se apresenta em formatos estapafúrdios brilhando a plástico propondo uma pseudo inovação e o texto oriundo de temas fincados nas circunstâncias cotidianas cuja novidade é a revelação permanente da ordo, sua estrutura interna. Aliás, o permanente na obra desta escritora é o cotidiano como expressão aguda de um mundo de eloqüente significado. De outra maneira jamais poderia afirmar como o fez em uma conferência no Rio de
Janeiro: “O mundo está certo! Graças a Deus dá pra continuar.”3(3) Na é, portanto, pela inovação formal que esta escritora nos surpreenderá. Sua estrutura é fluente, seus versos quase diretos, seu tema prosaico. E é, exatamente, nesse campo minado da falta de novidade que a força literária surge de maneira quase abrupta.
1
http://www.hottopos.com.br/videtur11/aprado.htm
Manuscritos de Felipa, p.104.
3
Encontro com escritores: “Minas além das Gerais, Rio de Janeiro,” 03 de junho de 1995.
2
1
Certa vez empregou a expressão "essa vidinha besta”4 para indicar a matéria de toda a poesia.
Sua escrita é caracterizada pelo fluxo da consciência, unido a uma espécie de medo de chegar muito perto daquilo que o momento poético vai revelar quase à sua revelia. Quase porque o momento poético