Individuo e sociedade
HISTORIOGRÁFICA
Arrisete C. L. Costa1
Há um consenso na comunidade dos historiadores no que diz respeito ao reconhecimento das biografias históricas como uma legítima forma historiográfica. Ao traçar um inventário das relações entre história e memória na cultura historiográfica ocidental, tendo como fio condutor a trama das memórias biográficas, acesso, nos termos de Hilda Noemí Agostino, “otras posibilidades de conocimiento, que nos aportan mas protagonistas y más colectivos sociales com la axiologia que los caracteriza y sus costumbres epocales”2. Tenciono demonstrar, por meio das diferentes modalidades do saber/ fazer biográfico, o trabalho de reconstrução das memórias individuais que aludem ao passado coletivo da humanidade, e, por isso, destaco aquelas produzidas no contexto das renovações da historiografia crítica contemporânea que ocorreram a partir de 1968, cuja práxis materialista arrebatou do esquecimento a história dos anônimos.
O termo biographia - grafia da vida - foi cunhado na Grécia no fim do período antigo. Desde então, a biografia é definida como a narração da vida de um indivíduo3.
Leonor Arfuch define-a como um horizonte de inteligibilidade, onde é possível articular diversos gêneros e formas, dos mais canônicos às múltiplas variações contemporâneas, e, ao discorrer sobre a multiplicidade das formas que integram o espaço biográfico, ressalta o traço comum existente entre elas:
[...] contam, de distintas maneiras, uma história ou experiência de vida. Estão inscritas numa das grandes divisões do discurso, na narrativa, e estão sujeitas a certos procedimentos compositivos, entre eles, e prioritariamente, aos que remetem ao eixo da temporalidade. 4
Para o historiador François Furet, narrar ou contar uma história é dizer “aquilo que aconteceu”, “restituir o caos dos acontecimentos que constituem o tecido de uma vida”5, cujo modelo é a narrativa biográfica. Para Jacques Le Goff a
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