Individualismo e Relações Amorosas na Modernidade e Pós-Modernidade
Gustavo Ramos Rodrigues
Resumo: O presente ensaio tem por objetivo compreender a construção e a configuração do individualismo, conforme percebido por autores como Georg Simmel e Louis Dumont, enquanto valor enraizado nas sociedades modernas e pós-modernas, tais como descritas nas obras de pensadores Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky, e das relações amorosas nessas mesmas sociedades. O ensaio divide-se em quatro partes, as quais buscam respectivamente: discutir a construção histórica do individualismo na modernidade; analisar sua constituição e seu posterior desenvolvimento pós-moderno; compreender as transformações históricas que criaram o modelo atual de relacionamento amoroso; e finalmente entender como o individualismo e os relacionamentos amorosos se articulam na modernidade e na pós-modernidade (as quais serão aqui tratadas como um contínuo dentro de um recorte histórico que vai da segunda metade do século XVIII até os dias atuais).
Introdução: Pessoa, indivíduo e modernidade.
Nos últimos séculos, as chamadas sociedades ocidentais passaram por numerosas transformações de diferentes ordens (políticas, econômicas, sociais, etc.), que tem sido o foco de incontáveis estudos. Conscientes da arbitrariedade de nosso recorte histórico e social, tentaremos contextualizar rapidamente o processo transformação através do qual o fenômeno do individualismo enquanto valor tomou o ocidente moderno, chegando até mesmo ao ponto em que se torna possível declarar que “o individualismo é o valor fundamental das sociedades modernas” (DUMONT, 1993).
Parece impossível analisar a construção da noção de indivíduo sem levar em consideração a noção de pessoa construída historicamente ao longo do ocidente. Nesse sentido, é de grande relevância a conferência clássica de Mauss (1974) sobre o tema, na qual o pensador