Indiv duo Preto de Jo o Dias
Na década de 1940, com o exército consolidado no poder em Moçambique, eis que um jovem escritor surge contra, dizendo não ao sistema. João Bernardo Dias, célebre escritor moçambicano, nasceu em 1926, dando início à sua produção literária logo cedo, aos 17 anos, com o compromisso de falar sobre a vida social de seu país, a denunciar a exploração do colonizado negro pelo colonizador branco europeu. Infelizmente, faleceu ainda muito jovem, aos 23 anos, enquanto estudava em Portugal, deixando uma pequena coleção de contos, publicados postumamente. O volume Godido e outros contos veio ao público em 1952, três anos após a morte do autor, organizado por Alda Lara, Vítor Evaristo e Orlando de Albuquerque. Foi um marco na literatura moçambicana, pela análise que João Dias foi capaz de fazer do contexto social em que situou seus contos, em uma época repleta de injustiças e preconceitos decorrente do colonialismo vigente. Na publicação da revista Tempo, n.º 543, sob o título Contos de João Dias: um brado pela justiça, o jovem escritor é exaltado pelo brilhante engajamento de sua obra:
João Dias marcou presença definitiva nas letras moçambicanas e pode dizer-se que foi um dos melhores escritores deste país. Nunca antes o brado pela justiça tinha sido lançado com mais determinação, clareza e toque intelectual combinados. A toda a sua volta, o escritor via, ouvia e sentia a opressão e a injustiça aberta que circunscreviam, quando não eliminavam, a liberdade da maioria na sociedade (Kwilimbe, 1981, p. 49-51). Verifica-se essa magnífica capacidade de o escritor visualizar o mundo colonial, repleta de valores falsos, no conto aqui selecionado, Indivíduo preto, o qual faz parte do volume Godido e outros contos. Discutir-se-á a estrutura social e as relações morais entre brancos e negros, este último oprimido e marginalizado, pelo qual o autor demonstra enorme paixão e dever em defender, como manifesta em uma carta em resposta à outra