Inadequações e Desvios Linguísticos
PROFª DIVA C. CALLES
INADEQUAÇÕES / DESVIOS DE LINGUAGEM / DESVIO DA NORMA / ERRO
São muitos os termos usados para designar enunciados inadequados que levam a problemas de compreensão, aceitação, comunicabilidade, entre outros. Pergunta-se, contudo, desvio para quem? De que proporção? Em que contexto? De fato, não existe desvio absoluto, unânime. O que é desvio para um falante não o é para outro. O que causa estranhamento a um, não causa a outro. O que é reprovado por um grupo não o é, por outro. Alguns desvios são considerados leves e toleráveis, outros, severos e inaceitáveis, dependendo do contexto. O desvio que é tolerado e aceito numa situação pode ser reprovado duramente em outra.
A aceitabilidade de um desvio está relacionada ao desempenho do falante. Em certos casos, uma construção pode ser aceitável para uma pessoa e inaceitável para outra, porque a primeira tem um domínio mais amplo do idioma do que a segunda. Um vocábulo inaceitável para uma pessoa pode ser aceitável para outra que detenha um vocabulário mais abrangente.
No diálogo a seguir,
– Ontem nóis fumo no jogo.
– Não fale “nóis fumo”, que está errado. a reprovação manifesta pelo segundo falante, indica que ele reconheceu um desvio na frase do primeiro. Não é o tipo de desvio que leva ao equívoco, à impossibilidade de decifrar a mensagem ou de compreendê-la. Qualquer falante nativo do português compreende perfeitamente a frase considerada errada pelo segundo falante. A verdade é que o segundo falante julga a frase errada por considerá-la pertencente a uma variante reprovada. A rejeição não é à expressão em si, mas ao fato de ela estar ligada a pessoas e aspectos culturais com que o falante não quer identificação. Ao contrário de outras modalidades de desvio, que admitem um tratamento objetivo, estas inadequações de contexto (a forma de expressão x é inadequada ao falante y) são complexas e relativas às variáveis históricas, sociais, culturais e estéticas a que se