Ilusão e realidade
Dizia santo Agostino que a vida cristã é uma luta. Talvez seja uma visão um pouco negativa da caminhada de fé, mas não tem duvida que expressa bastante a dinâmica existencial da pessoa que busca viver a mensagem evangélica de Jesus. Depois do entusiasmo dos primeiros tempos do nosso encontro com o Senhor, com a força da sua Palavra, no decorrer dos tempos sentimos o peso, a fadiga, o cansaço da caminhada.
O pecado é uma palavra negativa que aponta o caminho contrário á lógica do Evangelho. E assim, se o Evangelho nos impulsiona para a vida fraterna, o instinto egoísta – que segundo são Paulo encarna o pecado – nos impele para uma vida de rivalidade, de antagonismo; se o Evangelho nos convida para uma vida autentica e verdadeira, o instinto da carne nos leva para o lado da mentira; se o Evangelho nos convida para uma vida justa, o instinto do mal nos arrasta no amplo mundo da corrupção; enquanto o evangelho nos convida no difícil caminho do domínio dos instintos, o impulso da carne nos seduz a mergulhar neles. São estilos diferentes de vida que vão se contrapondo, disputando a nossa imaginação, as nossas projeções do futuro. Nesta altura podemos dizer que o pecado se apresenta como possibilidade de vida diferente, como ilusão que o diferente seja melhor da realidade que estamos vivendo. É a insatisfação o clima existencial no qual o pecado se insinua e tenta de nos seduzir. Pecado é uma fuga da realidade em mundos que não tem muito a ver conosco. Pecado é uma perca de tempo inútil. Talvez seja por isso que Simone Weil – uma das filosofas que mais admiro – insistia tanto sobre a atenção e nos seus diários anotava técnicas para manter a concentração sobre os próprios objetivos.
Acordar sempre antecipando o dia, como fazem os monges, se entregando na oração como maneira de manter viva a nossa atenção na nossa realidade. Talvez seja esta a melhor forma e a mais simples de desmanchar as ilusões que a toda hora se apresentam à nossa mente