ilha das flores
O senhor Suzuki planta tomates em Porto Alegre. Ele é um bípede, mamífero, possui o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor. É, portanto, um ser humano. Ele vende os tomates no supermercado. Dona Anete, também um ser humano, vende perfumes e, com o dinheiro da venda, compra os tomates do senhor Suzuki e carne de porco para uma refeição da família.
Um dos tomates está estragado e é jogado pela conscienciosa dona Anete no lixo. O refugo vai parar num lixão da capital gaúcha conhecido pelo irônico nome de Ilha das Flores. Nele, um homem compra um terreno e no local cria porcos. Seus funcionários catam no lixo o que pode ser considerado apropriado como alimentação para os porcos. Depois, o dono do terreno deixa entrar aqueles que então poderão escolher a parte que lhes cabe do lixo como alimentação - os seres humanos.
As últimas palavras do roteiro lembram: "O que coloca os seres humanos da Ilha das Flores numa posição posterior aos porcos na prioridade de escolha de materiais orgânicos é o fato de não terem dinheiro nem dono. Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
A Ilha das Flores não é uma ficção. Existe, e fica na margem esquerda do Rio Guaíba, a poucos quilômetros de Porto Alegre, a céu aberto.