IESE Desafios2014 10 ConsDem
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Caminhos Moçambicanos para a Construção da Democracia em Moçambique:Notas de uma leitura psicanalítica
Bóia Efraime Júnior
Introdução
Para mim, como psicólogo e psicoterapeuta, escrever sobre traumas colectivos, guerra e paz em Moçambique é um grande desafio e coloca‑me perante a questão se será possível e aceitável partir da patologia individual e transpor os conheci‑ mentos aqui ganhos para processos sociais. Como psicoterapeuta procuro entender os conflitos inconscientes dos meus pacientes, que se manifestam em dor e sofri‑ mento, esperando ajudá‑los a abrirem‑se para outras possíveis soluções. Procuro, igualmente, compartilhar as minhas reflexões e oposição não só ao uso da violência e da guerra, como também à promoção da banalização da guerra e destruição de vidas humanas. Isto é, por um lado, parte do compromisso ético da psicologia1 e da psicanálise e, por outro, uma tentativa de transpor conhecimentos ganhos no domínio da patologia individual para a social.
Particularmente no trabalho com as ex‑crianças‑soldado,2 realizado entre 1994 e
2001, na Ilha Josina Machel, na província de Maputo, em Mandhakazi, na província de
Gaza e em Muecate, na província de Nampula, tive de suportar, com os meus pacientes, muito luto e sentimentos de impotência. A elaboração das memórias traumáticas dos meus pacientes não se referia apenas à sua realidade interior, mas também à realidade
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Extracto da Moção de Apoio à Paz em Moçambique aprovada no IV Seminário Internacional de Psicologia nos Países de Língua Portuguesa – Psi‑PLP: “Os psicólogos da Psi‑PLP reunidos no IV Seminário Interna‑ cional de Psicologia nos Países de Língua portuguesa, na cidade do Lubango, República de Angola, no dia
5 de Dezembro de 2013, apelam ao governo de Moçambique e aos Dirigentes da Renamo a assumirem posturas de manutenção da Paz e primando pelo diálogo permanente para ultrapassarem o conflito armado e respeitarem as suas diferenças para a consolidação da Democracia.”
Este trabalho