Ideologia-sociologia
Roberto Della Santa Barros
Mestrando em Sociologia na Universidade Estadual Paulista (UNESP)
“A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões.” (Karl Marx, 1844)
1. Introdução
A cúpula da “crise política”, em 2005 – o escândalo nacional de “mensalões”, “acordões” e corrupção absolutamente generalizada entre os aparelhos do Estado brasileiro –, foi temporalmente demarcada por uma profunda contradição. Todo um ciclo histórico da dominação de classes no país – aproximadamente um quarto de século de democracia burguesa, sob implacável ofensiva “neoliberal” e simultânea “recolonização” imperialista – teve sua parasitária, putrefata e nauseabunda feição vampiresca exposta à luz da manhã, fazendo estremecer expressivos pilares de sustentação da institucionalidade burguesa. Em especial, importantes casamatas e fortalezas do Capital, tais como o parlamento e o governo federais.
Tal momento de turbulência, no entanto, não compeliu à entrada em cena das mais amplas massas exploradas. Ao não se colocarem em marcha e, dessa maneira, não atuarem como sujeito (coletivo) capaz de uma ação histórica independente – que pudesse aproveitar o que Lenin denominava “crise nas alturas”, qual seja: apreender a vulnerabilidade nas hostes inimigas para impor a força dos interesses, horizontes e métodos próprios do trabalho contra o capital – assistiu-se ao circunstancial encerramento da conjuntura política mais aguda de uma latente (e atuante) crise de hegemonia. Por fim, bem se sabe, a “crise nas alturas” não desceu dos palácios.
Apesar do salto no quantum de consciência social adquirida pelos “de baixo”, mediante os embriões de experiência histórica com o governo Lula (daí a dialética do termo “desilusão”), não se afirmou uma saída alternativa para a crise – gerada “de baixo para cima” – na qual as classes oprimidas impusessem sua vontade histórica