Idas e Vidas

“Majestosa”, “linda”, “perfeita”. É assim que defino a pequena prisão de vidas que tirou minha visão esquerda naquela tarde, uma simples, mas bonita gaiola de passarinhos que foi capaz de prender completamente minha atenção e aguçar ao nível máximo minha curiosidade – que como todos sabem, aos 4 anos já é bem difícil não ter uma aguçada – , não lembro o motivo, mas eu queria, sentia a necessidade de desmontar aquela bonita “prisão” que tinha a estrutura totalmente inspirada em um castelo de contos de fadas – o que soa bastante irônico para uma “prisão” -, uma pequena parte do arame que se sustentava por pequenos e finos braços de madeiras, comuns em gaiolas, estava solto, então eu dando continuidade comecei, com bastante delicadeza a soltar o arame, lembro-me dos pequeninos furos dos braços de madeira, no qual eu arrancava com satisfação o arame; tirei uma, duas, três vezes, e pelo sórdido destino, na quarta vez, o arame pegou pressão, e atravessou meu olho esquerdo, girou e ficou por uns 4 segundos até eu perceber e me afastar. Escorreram lagrimas, lagrimas sinceras, de arrependimento, de dor e sofrimento e literalmente lagrimas de sangue, minha alma chorou. Como toda criança faria, corri gritando, era possível ver o desespero nos pequenos tropeços em meio a passos apressados, eu corria em direção ao corredor que dava acesso a cozinha, era lá que estava minha mãe, que ouvindo meus gritos e soluços misturados ao choro correu em minha direção perguntando com desespero o motivo para tamanho alarde. Após um banho bem demorado e muitas lagrimas, percebi que eu estava enxergando normalmente, sendo assim não havia motivos para ir ao hospital, deitei em minha cama e dei alguns suspiros de alívio. Por volta das 20:00 horas, eu estava jantando com minha família, e escorreu uma única lagrima do olho no qual havia acontecido a fatalidade, passaram-se uns 20 minutos e eu percebi a ausência da visão do olho esquerdo, fui ao hospital, mas nada podiam fazer. No