Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijam
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Espetadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O ’Neill, No Reino da Dinamarca
Análise conteúdo do texto poético
1. O tema:
Há palavras que têm o poder de fazer despertar os nossos sentidos pelo simples facto de as mencionarmos, de as ouvirmos ou mesmo de pensarmos nelas. 2. Assunto:
O sujeito poético é a entidade que emite os seus sentimentos e pensamentos num poema e faz a apologia das palavras, e daquelas que valem a pena.
As que nos beijam que nos trazem felicidade, por oposição temos às outras que não têm cor. Estas palavras são as palavras de amor, de esperança, que nos impedem de sucumbir ao desgosto. São, de certa forma personificadas pois é como se tivessem boca para nos tocarem/beijarem. Podem surgir inesperadamente ou não assim como o amor e a poesia. Há uma relação entre o aparecimento destas palavras e o aparecimento do amor ou da poesia). Também podemos interpretar amor e poesia como duas dessas palavras que "nos beijam" (o poema permite as duas interpretações). Outra palavra importante e que nos "beija" é o nome da pessoa amada que pode ser escrito na mármore ou num papel (quer numa superfície mais duradoura ou não...é sempre uma palavra com grande significado!) Em forma de conclusão, essas palavras que beijamos (dizemos, consideramos, pensamos, repetimos) quando amanhece (noite perde o rosto), também nos transportam a lugares mágicos, ao sonho onde podemos ser/estar com quem