Há-de vir um senhor que é meu marido:
Ana Bénard da Costa
Instituto de Investigação Científica e Tropical, Lisboa
Esta comunicação[1] baseia-se em investigações que decorreram entre os anos de 1998 e 2002 junto de famílias dos bairros de Mafalala, Polana Caniço A e Hulene B na periferia de Maputo[2]. Foi neste contexto de precariedade de infra-estruturas urbanas e de serviços sociais, de índices elevados de «pobreza» e desemprego formal, que as investigações decorreu centrando-se na análise de estratégias de sobrevivência e reprodução social de famílias maioritariamente originárias do Sul de Moçambique. Para a compreensão de todo este processo foi essencial o estudo das relações de género e poder que se processam no interior das famílias e nesta comunicação analisam-se os diferentes papéis desempenhados pelos homens e mulheres reflectindo-se sobre as implicações que as mudanças ocorridas nas relações de aliança e nas estratégias económicas das famílias[3] têm (ou não) na sua transformação.
Uniões conjugais em transformação e questões de género
Nestas famílias coexistem diferentes processos de formalização das uniões conjugais que não são exclusivos entre si. E quando os actores sociais se afirmam «casados» podem referir-se a uniões formalizadas simultaneamente no Registo Civil, nas igrejas Cristãs (Católica, protestante ou de inspiração protestante) ou mesquitas Muçulmanas e através de lobolo[4]; há casais que só cumpriram parcialmente as diferentes cerimónias e prestações que o lobolo implica; outros referiram que se casaram «muçulmanamente»; há famílias poligâmicas, em que cada uma das mulheres é casada de forma diferente com o marido e há «uniões de facto» que não envolveram qualquer formalização[5]. A diversidade de tipos de uniões matrimoniais é significativa. Formalizar de algum modo uma união implica, pelo menos ao nível das representações, uma intenção de compromisso, não só