Humanismo
Bonnie Burstow **
RESUMO: A filosofia de Sartre pode ser fundamento para uma educação progressista centralizada no estudante? Sérias críticas são levantadas por alguns estudiosos, que alegam que sua visão das relações humanas é por demais restritiva. Eis a temática que o autor procura esclarecer ao examinar a extensão de tais objeções e a conveniência da filosofia sartreana perante a teoria educacional.
Palavras-chave: Liberdade individual, facticidade, conversão radical, escolha fundamental, evento crucial
A filosofia de Jean-Paul Sartre é bem conhecida pela ênfase no indivíduo e intransigente defesa da liberdade individual, seu fundamento.
Conseqüentemente, ela tem sido apontada como possível fundamentação para uma educação “progressista” que tenha o estudante como centro
(Kneller 1958, Morris 1966). As idéias de Sartre, no entanto, também têm sofrido contestações. A objeção mais importante consiste em alegar deficiências na concepção que Sartre teria das relações humanas. Embora ninguém negue que ele seja um campeão da liberdade e, assim, uma figura natural a que se voltem os educadores liberais, considera-se que sua idéia das
* Publicado Originalmente no Journal of Philosophy of Education n o 2, vol. 17, 1983, pp. 171185. Tradução de Newton Ramos-de-Oliveira, docente da Faculdade de Ciências e Letras/ Unesp. Email: ramosoli@uol.com.br
** Professora do Institute for Studies in Education, da Universidade de Toronto, Canadá.
Educação & Sociedade, ano XXI, nº 70, Abril/00
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relações humanas é por demais hostil e restrita. Diz-se que em seus textos são excluídas todas as possibilidades de convívio íntimo, benevolência e compreensão como tais e que, portanto, seus enunciados simplesmente não podem servir como fundamento educacional, de um prisma libertário ou não.
Entre os que levantam tal objeção, Khemais Benhamida foi o que apresentou argumentação mais extensa. Um de seus