HUMANIDADE E TRANSCEND NCIA
OS SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA
Através de centenas de milhares de anos os animais conseguiram viver por meio da adaptação física. Mas a coisa não se esgota na adaptação física do organismo ao ambiente. O animal faz com que a natureza se adapte ao seu corpo. E o extraordinário é que toda essa sabedoria para sobreviver e arte para fazer seja transmitida de geração a geração, silenciosamente, sem palavras e sem mestres. Cada corpo produz sempre a mesma coisa. O animal é o seu corpo. Sua programação biológica é completa, fechada e perfeita. Não há problemas não respondidos, ele não possui qualquer brecha para que alguma nova coisa seja inventada. Sua vida se processa num mundo estruturamente fechado, “a aventura da liberdade não lhes é oferecida, mas não recebe em contrapartida a maldição da neurose e o terror da angustia”. O homem diferente do animal que é o seu corpo, tem o seu corpo, não é o que o corpo faz e sim ele que faz com o corpo. A programação biológica não nos abandoou, as crianças continuam a nascer e crescer, ela apenas não é o centro de tudo como antes. O fato é que os homens se recusam a ser aquilo que se assemelha aos animais, tornasse criadores se jardins, casas, palácios e etc. e quando nos perguntamos sobre a inspiração para esses mundos que os homens imaginaram, vem-nos o espanto. O homem é capaz de cometer suicídio. Toda a nossa vida cotidiana se baseia numa permanente negação dos imperativos imediatos ao corpo. A cultura, nome que se da a esses mundos que os homens imaginam e constroem, só se inicia no momento em que o corpo deixa de dar as ordens. Os homens, ao contrario, parecem ser constitucionalmente desadaptados ao mundo real, tal como ele lhes é dado. A sugestão que nos vem da psicanálise é de que todo homem faz cultura a fim de criar os objetos do seu desejo, “é encontrar um mundo que possa ser amado”. As esperanças do ato pelo qual os homens criaram a cultura, presentes no próprio fracasso, são horizontes