História Pataxó Hãhãhãe
Nas terras onde está localizada a Reserva Caramuru-Paraguaçu, criada pelo então Serviço de Proteção aos Índios (SPI), em 1926, em terras devolutas do Estado da Bahia, para “gozo dos índios Pataxós e Tupinambás” (Lei Estadual nº 1916/26. Diário Oficial. Salvador, 11/08/1926. Pp. 9935.), viviam tradicionalmente os Pataxó Hãhãhãe e Baenã, conforme preconiza a tradição oral. O índio Kamuru-Iguaxó Igueligecis, por exemplo, se referiu aos Hãhãhãe como “os índios nativos do posto, conquistados na Serra do Couro Dantas” (entrevista concedida, em 1977, na Aldeia de Barra Velha, Porto Seguro, BA, à Maria Rosário G.de Carvalho).
O não-índio Otaviano, nascido em Itajú do Colônia, na área do PI Caramuru, em uma fazenda denominada Belo Horizonte, referiu-os como os índios “pegados na Serra das Três Pontas, depois re-denominada Itarantim”. O pai de Otaviano teria “amansado” índios na Fazenda Acampamento, estabelecida a dois quilômetros do Posto Indígena Caramuru: “foi onde alojou os índios que vieram de Itarantim. Meu pai foi ajudar a cuidar deles, ajudar a ensinar eles falar, ensinar a trabalhar”. De acordo com o seu depoimento, os índios “pegados” nas matas do PI Caramuru eram deslocados, na época da seca, quando não havia caça, para os locais Rancho Queimado e Mundo Novo, no PI Paraguaçu, ao sul da reserva.
No período da chuva, quando a caça e o peixe eram abundantes, os índios retornavam para Itajú, particularmente para “Toucinho” e “Entra com Jeito”. Otaviano mencionou Honrak: “esse já veio sendo capitão do mato, o chefe da turma, quem comandava a turma toda”, cuja mulher se chamava Titiaca; Bahetá, “essa veio do mato!”, Mucai, Bute, Milú, Arquelau, Tamanin e Ketão, sendo a última “era a índia mais velha que tinha na aldeia”. Detentor de uma memória muita vívida, ele chegou a particularizar certos casos, como o do índio Dedé, “que ninguém sabe se é vivo ou morto porque foi mudado para o Posto Maxacali [presídio Crenak] e desapareceu”, fato que teria ocorrido