História da Loucura - Michel Foucault
Apesar de situarmos a virada do século XVIII para XIX como o período em que a loucura é vista como um fenômeno que passa a receber uma atenção terapêutica, na verdade, antes disso já havia um conhecimento sobre a loucura, suas causas, manifestações e tratamentos, evidente que nos termos dos discursos médicos da época. A medicina hipocrática utilizava os termos mania, melancolia, demência, mais tarde adotados por Pinnel para nomear as formas de alienação mental. Na medicina árabe, desde o século VIII, utilizava-se uma abordagem terapêutica institucional voltada para a loucura. Na Espanha, no século XV, algumas instituições foram criadas por influência árabe. Porém, só se pode falar de especialidade em medicina, o tratamento da loucura na virada do século XVIII para o XIX, como um momento privilegiado durante o qual se constitui a medicina mental, a psiquiatria como a primeira especialidade da medicina, não pelo inusitado do seu objeto, mas por seus métodos e instituições. Foucault diz que neste momento, que ele chama de idade clássica, produziu-se no mundo ocidental uma fissura fundamental entre a Razão e a Desrazão. O início disto tudo é a criação na França, dos “Hospitais”, que eram estruturas destinadas a receber em caráter de confinamento as múltiplas faces da desrazão ( loucos, miseráveis, libertinos, devassos, hereges, venéreos). Este fenômeno se irradiou por toda a Europa. Com o tempo, a loucura vai sendo decifrada como perigo de causar a morte dos outros ou a própria e vai gerar um movimento de separação do universo correlacional. Como o custo dessas instituições era alto, cada vez mais vão sendo limitadas aos loucos e foras da lei.
Alguns historiadores atribuem a Pinel, 1793, médico francês, a “liberação dos Loucos”, que os desacorrentou. Se a situação descrita ocorreu realmente, não há certeza. Em 1823 seu filho relata a experiência do pai ao libertar os insanos de suas correntes e em 1836 apresenta um trabalho que vai