historia
Livro Gilberto Freyre trata dos impactos sociais da cultura da cana-de-açúcar e de sua ligação com a escravidão e a destruição do meio ambiente por Carolina Cantarino
Alertas sobre os possíveisimpactos ambientais que a extensão da produção canavieira poderá gerar e sobre a precariedade do trabalho presente nos canaviais - que aproxima, muitas vezes, a rotina dos cortadores de cana da escravidão - fazem parte da polêmica em torno do etanol, recheada com essas e outras questões que não são novas no Brasil. Embora colocadas num novo contexto, a história do Brasil nos faz lembrar que a monocultura canavieira foi profundamente marcada (ao longo de, ao menos, quatro séculos) pelo escravismo e pela a destruição do meio ambiente. Esses e outros elementos (políticos, culturais, sociais) integram a chamada "civilização do açúcar", esmiuçada por Gilberto Freyre no livro Nordeste - aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil.
Publicado em 1937, a proposta do livro, segundo Freyre, é realizar um estudo ecológico sobre o Nordeste brasileiro. Não o "outro Nordeste" das secas, do semi-árido, do sertão cujas atividades principais são a pecuária e a plantações de algodão. Mas o Nordeste que se estende do Recôncavo baiano ao Maranhão cujo o centro éPernambuco e, particularmente, a cidade do Recife. Esse Nordeste cuja estrutura é baseada na escravidão, no latifúndio e na monocultura canavieira. E que, segundo Freyre, por algum tempo foi o "centro da civilização brasileira".
A cana-de-açúcar é o principal personagem do livro. Através dela, e ao longo de seis capítulos, Freyre analisa a relação entre o homem e a natureza, sempre mediada pela cultura: as relações entre senhores de engenho e seus escravos são sempre descritas através de suas relações com as matas, os rios e os animais; a partir dos valores que estão sendo construídos com a extensão dos canaviais e, nesse sentido, com a constituição de uma