Historia da balança comercial
APROPUC-SP
João Ildebrando Bocchi é professor do Departamento de Economia da PUC-SP
O artigo trata das restrições externas enfrentadas pela economia brasileira, que conduzem a reiteradas crises cambiais, conforme podemos verificar em uma análise de longo prazo. Na parte I do trabalho é feita uma reconstituição histórica das contas externas desde a emancipação política do País. A parte II analisa a dívida externa brasileira a partir dos anos 60, a crise das dívidas nos anos 80, bem como o retorno do País ao mercado financeiro internacional na década de 90. A questão externa será o principal fator de instabilidade do Plano Real, com a economia atravessando mais um período de dificuldades cambiais, como as enfrentadas desde o início do século passado.
Ao analisarmos as contas externas do Brasil desde a sua emancipação política, constatamos que os desequilíbrios externos estão, direta ou indiretamente, no centro das crises econômicas por que passou o País. Logo após a Independência, o País assume pesada dívida externa portuguesa, no bojo das negociações para a aceitação de uma Independência já conquistada política e militarmente. A balança comercial brasileira será deficitária entre 1821 e 1860, sendo este déficit equilibrado com o ingresso de capitais estrangeiros, quase sempre na forma de empréstimos públicos. Já naquela época isto significa uma solução provisória, na medida em que este equilíbrio irá fatalmente gerar futuros desequilíbrios em função da necessidade de servir estas dívidas e da remuneração dos investimentos diretos. A partir de 1860, com os superávits comerciais produzidos pelo café, esta questão torna-se ainda mais evidente: os grandes déficits na conta dos serviços implicarão persistentes déficits na conta de transações correntes, que serão fechados, novamente, com o ingresso de capitais estrangeiros, reproduzindo de forma amplificada a situação de equilíbrio/desequilíbrio