Heresia

É bastante provável que a utilização do termo “heresia” não seja mais tão presente em nosso cotidiano pós-moderno, dessa forma, é interessante analisar a experiência de perguntar a um grupo de pessoas o que elas entendem como heresia e certamente um número significativo associará, quase que instantaneamente, às fogueiras da inquisição que assolaram grande parte do período conhecido como Idade Média.
O assunto tratado aqui pode gerar à primeira vista certo preconceito em torno de uma suposta passividade da população sobre o poder da igreja durante esse período histórico, por isso creio que seja de tamanha importância levantar primeiramente uma discussão acerca da mentalidade do universo medieval, principalmente no que se refere à Baixa Idade Média do Ocidente. Estamos tratando do período de consolidação e expansão do cristianismo por toda Europa, onde notamos que o poder da Igreja ocorre não só no âmbito religioso, mas também no político-econômico e social, no geral, é impossível desassociar a mentalidade medieval da mentalidade religiosa, muito marcada pela dominação da igreja.
Sabemos que a busca pela neutralidade é algo bastante almejado dentro de todas as ciências sociais e para isso qualquer estudo histórico deveria começar primordialmente por uma análise crítica das fontes. Quanto a isso vale estar atento ao fato de que o tema em questão apresenta uma disparidade esmagadora no que diz respeito as suas autorias, já que a maior parte das fontes foi produzida pela Igreja, salve raras exceções. Portanto, a análise critica é ainda mais necessária quando analisamos temas onde, enquanto um grupo é silenciado, o outro faz monopólio da voz.
Após a decadência do Império Romano e o advento das migrações germânicas, o cristianismo foi um elemento fundamental para articular essas duas sociedades em uma suposta unidade religiosa, crucial para a criação de uma civilização e mentalidade medieval. Com o surgimento do sistema feudal, o papel da Igreja foi ainda mais