Heraclito
O mundo, segundo Heráclito, é um fluxo permanente em que nada permanece idêntico a si mesmo. Tudo se transforma no seu contrário. “A guerra é mãe e rainha de todas as coisas”. É da luta entre os contrários, ou seja, do devir, do tornar-se, do vir-a-ser, que eles se harmonizam numa unidade. O Lógos (razão, discurso sobre o ser) é mudança e contradição.
Isso significa que a verdade é dialética, isto é, as palavras dizem as coisas em sua eterna transformação. Os nossos sentidos enganam-nos, pois enxergamos as coisas imóveis, estáveis, com uma forma própria e determinada. Porém, nosso pensamento capta a instabilidade e mutabilidade dos seres. “É impossível entrar no mesmo rio duas vezes”. As águas já são outras e nós já não somos os mesmos.
É na síntese entre os pares de contrários (o dia que se torna noite que se torna dia novamente; a vida que se torna morte e vice-versa; o quente que se torna frio e o frio que se torna quente; o seco que umedece, o úmido que seca, etc.), da multiplicidade contraditória que surge a unidade dialética que nos permite algum conhecimento, ainda que passageiro.
O Obscuro, como era conhecido Heráclito, concebeu o FOGO como o princípio eterno que causa a mudança e concebe Deus como a harmonia ou síntese entre os contrários. É uma concepção de realidade que permite compreender o mundo somente no seu devir e na unidade dos opostos. Quer dizer que a doença torna valorosa a saúde e que jamais entenderíamos o significado da justiça se não houvesse a ofensa. O sentido, o significado está na harmonia, na conciliação entre os vários pares de contrários.
Por isso, é muito provável que a imagem do inferno criada pela Igreja Católica e pelos artistas ocidentais tenham referência à filosofia heraclitiana. Isso porque o fogo que significa mudança, instabilidade se opõe