Guerrilheira não tem nome
Quando criança era igual a todas as outras, mas havia um diferencial que me intrigava, sempre se mostrava preocupada com os outros e gostava de dar ordens, enfrentava os meninos de igual, loirinha, magrela, corria pela rua quando a chuva se anunciava, era hora de apanhar manga e um bando de crianças fazia o mesmo. Era comum na década de sessenta as crianças de classe média pegarem manga na rua, isso fazia parte de mais uma brincadeira. Saírem em bando em bicicleta pela Generalíssimo, Brás, Nazaré era uma aventura que não deixava os pais apreensivos, o transito calmo e violência urbana impensável, os deixava despreocupado. Na adolescência Roberto Carlos não embalava seu coração que estava tocado por Chico Buarque, foi morar em São Paulo, já havia Rita Lee “a sua mais completa tradução” e alguma coisa aconteceu no seu coração. Na Faculdade de Ciências Sócias conheceu Hélio Fernando e isso mudou o curso de sua história ou ela passou a escrever a sua história. Hélio Fernando, jovem barbudo com pensamentos revolucionários, hora parecia Che Guevara, hora Dom Quixote lutando contra moinhos de vento, falava de uma ditadura que parecia existir só em sua cabeça, dizia que não se podia formar chapa para concorrer ao Centro Acadêmico, que havia estudantes desaparecidos, de uma guerrilha no Brasil em um lugar que eu nunca tinha ouvido falar, parece que o nome é Xamboia. Muita fantasia, os jornais não falavam nada disso, pelo contrário mostravam que o” Brasil é o pais que vai pra frente”, a revista Manchete publicava as linda vedetes e a sociedade era um glamour só, como diria Ibrahim Sued “Ademã que vou em frente”.
Mas aí conheceu o Padre Antonio, com ele a coisa saiu da fantasia para o profano, até que um dia soube que seu nome constava numa lista que ninguém queria entrar e foi avisada que precisava sair de Sampa. Antonio, lhe ajudou na fuga,quando se deu conta já estava em Xamboiá, pois não é que existe mesmo, só não está no