GUERRAS URBANAS
Parte II
A violência urbana como guerra
A guerra como metáfora1
Quando chegamos em casa, podíamos ver na TV imagens das rebeliões no Iraque ao mesmo tempo em que, aqui, acompanhávamos, ao vivo e em cores, a nossa guerra civil2.
Quando cheguei, era tiro para todo lado, uma coisa de louco. Parecia faroeste. Não dá para dizer que havia clima de guerra. Era a própria guerra3.
É impossível usar uma balança para medir o peso das palavras. No entanto, todos os dias lemos, escrevemos, falamos ou ouvimos expressões pesadas e desgastadas pela forma múltipla e indefinida com que os diferentes discursos as utilizam. Guerra é uma dessas palavras pesadas, que funcionam, corriqueiramente,
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como metáforas que solapam as gradações diversas de um conceito.
De certo modo, definir práticas com a metáfora da guerra é produzir um campo de conflito entre, ao menos, duas partes. Um resultado comum dessa escrita divisora é o binarismo antagônico: uma fronteira simbólica é estabelecida como forma de definir quem são os combatentes e, conseqüentemente, quem são os inimigos que devem ser temidos.
O termo guerra, quando lemos os jornais do cotidiano, parece ter deixado de significar um conflito militar entre nações, para tornar-se elipse narrativa no ato de reportar os complexos conflitos urbanos dos dias atuais. A diversidade do uso da metáfora é a própria prática incessante da criação de fronteiras simbólicas4 na
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Seguindo a divisão metodológica proposta na introdução do trabalho, esta segunda parte da dissertação foca as análises em séries de reportagens publicadas em dois jornais distintos. A primeira série, que compõe o terceiro capítulo, é intitulada “A guerra do Rio” e vem sendo publicada no jornal O Globo, fragmentadamente, desde 2003. A segunda série desta parte II, que compõe o quarto capítulo, foi publicada no jornal Folha de S. Paulo no mês de maio de 2006, sob a rubrica “Guerra