Goias
Eduardo Gusmão de QUADROS*
RESUMO
A figura do bandeirante foi colocada na historiografia goiana como fundadora de uma sociedade. Neste artigo, estudamos como a escrita do passado em Goiás serviu à criação de um personagem heróico, gerando uma tradição acerca das origens. Isto aproximou o discurso histórico do mítico.
PALAVRAS-CHAVE: Bandeirante - Historiografia – Identidade - Goiás
“No coração do Brasil, domínio da primavera se estende a terra goiana que nos legou Anhanguera
O bandeirante atrevido
Desbravador do sertão
Em cada pedra abalada
Deixou da audácia um padrão” Hino do Estado de Goiás
A imagem do bandeirante percorre os espaços goianos. Ela encontra-se incrustada em monumentos, praças, escolas, murais, ruas, até na bandeira da moderna cidade de Goiânia. Mas existe alguma relação histórica entre o segundo Anhanguera e a capital do Estado? Como essa personagem tornou-se uma referência simbólica dos goianos? Que mensagem tal utilização do passado intenta transmitir? Descobrir esses jogos de palavras e imagens que fundam as tradições é também tarefa do historiador. Afinal, elas conformam um passado vivido; constituem uma atualização dos momentos antigos que costumamos investigar. Porém, esse material é freqüentemente reproduzido sem reflexão e através da relação crítica que a pesquisa histórica se formará. Essa posição não significa que sejamos isentos ou que possamos assumir uma postura de neutralidade. Nós, historiadores/as, não estamos também embebidos nessas tradições compartilhadas? Portanto, há uma dupla operação a ser feita: a primeira no eixo presente-memória-identidade e a segunda na vertente passado-documento-historiografia. As duas tríades possuem interligações tanto verticais quanto paralelas. Unindo as duas extremidades percebemos como a produção do saber histórico tem suas condições de representacionalidade dentro do campo de forças de uma configuração social que busca conhecer-se: