Giordano Bruno
Essas ingerências dos intelectuais sobre os príncipes e os tiranos ocorreram em contextos diversos, e em condições não muito distintas: com Platão na Siracusa ao tempo de Dionísio; com Aristóteles na corte de Felipe da Macedônia; com Maquiavel na Florença dos Médici; com Th omas Morus na Inglaterra de Henrique VIII; com Hobbes à época dos primeiros Stuarts (quando foi preceptor de Carlos II por cerca de dez anos); com Bossuet em Versalhes na era de Luís XIV; com o hilariante Voltaire, em suas travessuras e desventuras na corte de Potsdam, quando se prontificou a encarnar o papel de agente civilizador da bárbara Prússia, por suas gestões junto a Frederico II. É bem verdade que Morus havia considerado o serviço prestado aos reis como pouco menos que escravidão, e que cumpriu com muita relutância algumas tarefas a ele conferidas. E parece que quase todos esses intelectuais perceberam que o espaço para a filosofia é bem exíguo no reino das cabeças coroadas. Platão se resignara a admitir a quase inutilidade de o filósofo aconselhar o príncipe, a não ser que o príncipe se tornasse filósofo, no sentido pleno da expressão. Contudo, isso era muitíssimo improvável. Que o diga Voltaire, já coberto de ultrajes, sendo apeado de sua carruagem para uma revista a mando do rei, quando de seu inglório retorno da