Giordano Bruno

339 palavras 2 páginas
A s tentativas empreendidas por alguns expoentes da filosofia em transitar continuamente na esfera das ações políticas, para tentar exercer a sua influência particular e personalizada nas decisões dos governantes, revelam aspectos muito relevantes da cena política, do ângulo da história dos intelectuais. Algumas dessas ligações, sempre perigosas, constituíram cenas trágicas, outras cômicas, mas sempre com implicações importantes para a compreensão do campo do poder. E, tanto mais ainda, no século XVI, que conheceu uma profunda ruptura na unidade medieval do pensamento político, longamente balizada pelas disputas entre regnum e sacerdotium.

Essas ingerências dos intelectuais sobre os príncipes e os tiranos ocorreram em contextos diversos, e em condições não muito distintas: com Platão na Siracusa ao tempo de Dionísio; com Aristóteles na corte de Felipe da Macedônia; com Maquiavel na Florença dos Médici; com Th omas Morus na Inglaterra de Henrique VIII; com Hobbes à época dos primeiros Stuarts (quando foi preceptor de Carlos II por cerca de dez anos); com Bossuet em Versalhes na era de Luís XIV; com o hilariante Voltaire, em suas travessuras e desventuras na corte de Potsdam, quando se prontificou a encarnar o papel de agente civilizador da bárbara Prússia, por suas gestões junto a Frederico II. É bem verdade que Morus havia considerado o serviço prestado aos reis como pouco menos que escravidão, e que cumpriu com muita relutância algumas tarefas a ele conferidas. E parece que quase todos esses intelectuais perceberam que o espaço para a filosofia é bem exíguo no reino das cabeças coroadas. Platão se resignara a admitir a quase inutilidade de o filósofo aconselhar o príncipe, a não ser que o príncipe se tornasse filósofo, no sentido pleno da expressão. Contudo, isso era muitíssimo improvável. Que o diga Voltaire, já coberto de ultrajes, sendo apeado de sua carruagem para uma revista a mando do rei, quando de seu inglório retorno da

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