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As pesquisas quantitativas sobre desigualdade racial, realizadas nos últimos 30 anos, têm apontado consistentemente para a existência de um enorme fosso a separar negros e brancos no Brasil do ponto de vista de salários, escolaridade, expectativa de vida e mortalidade infantil, para ficarmos nos indicadores mais importantes. É um fosso demasiadamente amplo, difundido e persistente para que se possa explicá-lo apenas pela escravidão ou pela desigualdade social de que o Brasil é recordista.
Ao mesmo tempo, outras pesquisas apontam a existência de mecanismos discriminatórios na escola e na mídia, especialmente a televisão, que mantêm, reforçam e atualizam estereótipos negativos sobre a população negra, a qual também é objeto de tratamento discriminatório em suas interações com a polícia e com o Judiciário.
Os resultados dessas pesquisas constituem um golpe mortal para a ideologia da "democracia racial", denunciada como instrumento de manutenção do status quo.
Diante desse quadro, constatado inclusive por enviados especiais de organismos internacionais como a ONU e a OEA, o movimento negro brasileiro e seus aliados passaram da simples denúncia à proposição de medidas capazes de contribuir para alterá-lo.
Desde o final de 2001, na esteira da Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, têm sido adotadas medidas de ação afirmativa, ou discriminação positiva, no âmbito do ensino superior e do funcionalismo público. Neste momento, mais de duas dezenas de universidades públicas, federais e estaduais, utilizam o sistema de cotas para negros - e/ou indígenas, dependendo da região -, com resultados que contradizem as objeções a esse sistema com base no "mérito acadêmico" (que o vestibular comprovadamente não pode medir) ou na "futura queda do padrão de ensino". Simultaneamente, as prefeituras de alguns municípios das Regiões Sul e Sudeste reservam vagas para negros