Gente diferenciada
Se na atualidade a Web 2.0 e a convergência digital acenam com a possibilidade do advento de uma cultura participatória e de um emissor-receptor, quais as mensagens serão produzidas pelos usuários das classes menos favorecidas da sociedade brasileira que recentemente superaram a “brecha digital”?
Mais do que os historiadores, são as pessoas normais e correntes que melhor interpretam o momento histórico no qual elas vivem. Em maio de 2011, uma moradora de Higienópolis, bairro tradicional da capital paulista, realizou este feito, ao cunhar quase ingenuamente a expressão que representa a mudança social do Brasil no século XXI. Ao ser entrevistada sobre o por quê de os moradores terem se manifestado contra a abertura de uma estação de metrô neste bairro de classe alta, a senhora alegou que a novidade traria “gente diferenciada” à região.
Piscinas de plástico armadas no quintal, banho de sol na laje, poses sensuais frente a uma parede de tijolos nus ou às tábuas de madeira do barraco. Formas diversas de socialização são registradas e “postadas” na web, para o escândalo daqueles que reinavam no espaço virtual. E sem nenhuma ponta de vergonha ou de submissão aos padrões estéticos hegemônico-globalizantes. Assim como, a linguagem utilizada nas descrições das fotos, nos “scraps”, nos depoimentos, tão distantes da norma culta...Em conjunto, essas produções simbólicas da “massa digital” são alvo de análise humorística/irônica, mas também causam insatisfação e mesmo o abandono do território, em busca de espaços mais elitizados. A metáfora utilizada para denominar esta tendência não poderia ser mais reveladora: a favela. Assim como a transformação do “terceiro entorno” em um território marcado por diferenças, por estruturas de classe, por preconceitos, mas também por convivência acomodada, eternamente a beira de um conflito, traz em si uma das mais marcantes contradições brasileiras. Na rapidez própria das redes sociais, a entrada da “gente