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8292 palavras 34 páginas
A LITERATURA PORTUGUESA
CONTEMPORÂNEA ENQUANTO DESCOBERTA
DA MEMÓRIA DA NAÇÃO
ADRIANA ALVES DE PAULA MARTINS
«O tempo só precisa de tempo.
A revolta do povo de Madrid, em 1808, só encontrou Goya preparado em 1814.
É verdade que a história anda mais depressa do que os homens que a pintam ou a escrevem.»
(José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia)

I.
As tentativas de conhecer e de compreender o passado, seja ele mais ou menos recente, demonstram que o discurso histórico e o discurso ficcional não são discursos estanques, sendo pertinente reconhecer a possibilidade da instauração de um diálogo entre a
História e a ficção.
Tal diálogo torna-se viável, sobretudo, pelo reconhecimento do carácter narrativo de ambos os discursos, reconhecendo Hayden
White (1987: ix) que nenhuma narrativa pode ser considerada uma forma discursiva neutra. Tal afirmação chama, desde logo, a atenção para dois aspectos: (i) o facto de tanto o discurso histórico quanto o ficcional poderem ser “preenchidos” com conteúdos reais ou imaginários e (ii) o facto de os dois tipos de discursos serem reconhecidos como sistemas efectivos de produção de sentido, relevando daí a constatação de que tais sistemas estão sujeitos a manipulações de ordem cultural e ideológica, o que vem, por seu turno, comprometer a crença na representação objectiva do real1. Este
1

Hayden White (1987: ix) descreve da seguinte forma a narrativa: «(a) narrative is not merely a neutral discursive form that may or may not be used to represent real events in their aspect of developmental processes but rather entails ontological and epistemic choices with distinct ideological and even specifically political implications». Sobre a História e a ficção enquanto discursos que se constituem em sistemas de significação, através dos quais é possível compreender o passado, ver também Linda
Hutcheon (1988: 89).

ADRIANA ALVES DE PAULA MARTINS

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é aqui entendido, de acordo com a postulação

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