Galaxia de Gutenberg
(Excertos)
1
Marshall McLuhan
1. Da Cultura Acústica à Cultura Visual
A interiorização da tecnologia do alfabeto fonético faz passar o homem do mundo mágico do ouvido para o mundo indiferente da visão. J. C. Carothers publicou na revista Psychiatry (Novembro,
1959) um artigo intitulado “Cultura, Psiquiatria e Mundo da Escrita” em que estabeleceu um contraste entre primitivos não alfabetizados e primitivos alfabetizados
e
entre
analfabetos
e
o
homem
ocidental
médio:
1
Os excertos que a seguir se apresentam estão tematicamente organizados em 5 conjuntos, cada qual com um sub-título por nós atribuído. Pretende-se deste modo reduzir as dificuldades de acesso a um conjunto de fragmentos extraídos de uma obra cuja estrutura, já de si fragmentária, recorre sistematicamente a um método de reenvio múltiplo, de colagem das mais díspares e variadas citações. Trata-se de um regime
"em mosaico" que M. McLuhan elege de forma explícita e teoricamente sustentada e da qual retira inegáveis efeitos sugestivos.
"Em consequência do tipo de influências educativas que recebe durante a infância, e mesmo durante toda a sua vida, o africano é levado a considerar-se como uma parte insignificante de um organismo mais vasto - a família e o clã - e não como um indivíduo independente e confiante em si mesmo. Não há qualquer papel para a iniciativa pessoal e para a ambição e o indivíduo é incapaz de alcançar uma integração significativa da sua experiência pessoal. Contrariamente às constrições do plano intelectual, existe uma grande liberdade no plano temperamental esperando-se que o homem viva muito mais no “aqui e agora”, que seja muito extrovertido e que exprima livremente os seus sentimentos"2. Em
suma,
a
ideia
que
fazemos
do
"primitivo
livre
de
inibições" não tem em conta a inibição total, e mesmo a supressão da vida mental e pessoal, inerente ao universo dos