Gabriela Cravo e Canela
Aventuras e desventuras de um bom brasileiro (nascido na Síria) na cidade de Ilhéus, em 1925, quando florescia o cacau e imperava o progresso com amores, assassinatos, banquetes, presépios, histórias variadas para todos os gostos, um remoto passado glorioso de nobres soberbos e salafrários um recente passado de fazendeiros ricos e afamados jagunços, com solidão e suspiros, desejo, vingança, ódio, com chuvas e sol e com luar, leis inflexíveis, manobras políticas, o apaixonante caso da barra, com prestidigitador, dançarina, milagre e outras mágicas ou um brasileiro das arábias.
CAPÍTULO PRIMEIRO
O langor de Ofenísia (que muito pouco aparece mas nem por isso é menos importante).
Neste ano de impetuoso progresso... (de um jornal de Ilhéus, em 1925)
RONDÓ DE OFENÍSIA
Escutai, ó meu irmão, Luiz Antônio, meu irmão: Ofenísia na varanda na rede a se balançar.O calor e o leque,a brisa doce do mar, mucama no cafuné. Já ia fechar os olhos o monarca apareceu:barbas de tinta negra, ó resplendor!O verso de Teodoro,a rima para
Ofenísia, o vestido vindo do Rio, o espartilho, o colar, mantilha de seda negra, o sagüi que tu me deste, tudo isso de que serve Luiz Antônio, meu irmão?
São brasas seus olhos negros, (– São olhos do imperador!) incendiaram meus olhos.
Lençol de sonho suas barbas (– São barbas imperiais!) para o meu corpo envolver. Com ele quero casar (– Com o rei não podeis casar!) com ele quero deitar em suas barbas sonhar. (–Ai, irmã, nos desonrais!) Luiz António, meu irmão, que esperais pra me matar? Não quero o conde, o barão, senhor de engenho não quero, nem os versos de Teodoro, não quero rosas nem cravos nem brincos de diamante. Tudo que quero são as barbas tão negras do imperador! Meu irmão, Luiz Antônio,da casa ilustre dos Ávilas, escutai, ó meu irmão: se concubina não for do Senhor imperador nessa rede vou morrer de langor.
DO SOL E DA CHUVA COM PEQUENO MILAGRE
Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata