Gabriela cravo e canela
Gabriela, cravo e canela, escrito no ano de 1958, é o décimo primeiro romance de Jorge Amado. É considerado pela crítica como o “divisor de águas”. Ainda impregnado da temática político-coronelista traz uma escrita mais independente, voltada à valorização da cultura popular e à liberdade individual. “Gabriela” é a representação do povo em seu desejo ardente de liberdade e de vida. O autor baiano já canonizado pelo público e ao mesmo tempo excluído das altas rodas literárias, recebe o merecido reconhecimento e chega a Academia Brasileira de Letras, em 1961, “pelas mãos” de uma senhora chamada “Dona Gabriela”, conforme coloca o poeta Manuel Bandeira em ocasião da posse para a academia.
Gabriela, cravo e canela, inaugura a série de perfis femininos, uma das fortes vertentes da ficção amadiana, que admite várias linhas de abordagem, dentre elas a comportamentalista, sociológica, psicanalítica. As figuras femininas, nessa obra, são construídas em detrimento dos valores e aspectos culturais, a partir das relações que se estabelecem entre essas personagens e o sistema patriarcal, o qual elas iam de encontro, conscientes ou inconscientes em busca de sua construção identitária. Conforme colocou Fernando Cristóvão sobre a temática feminina na obra amadiana: “desde Gabriela, a mulher sobe ao primeiro plano e aí se mantém, em vários romances” (apud PATRÍCIO, 1999, p.11).
Segundo os estudos de Maria de Lourdes Netto Simões (1999), as mulheres do romance Gabriela, cravo e canela podem ser analisadas em cinco categorias: “as mulheres de família” – esposas e filhas dos coronéis; “as solteironas” – religiosas