FUTUROS & PRETÉRITOS
Era apenas um daqueles dias onde o mistério escapa pelas frestas das portas para alojar-se atrás dos potes que se mantêm arrumados, dentro dos armários. Sombras agigantadas desprezavam a luz para ganhar vida na escuridão pulsante. Fugidio e assustador, um feixe de ondas arrastou-se até um móvel onde uma TV foi ligada pelo simples contato com a energia cognitiva da ilusão da matéria.
Uma mulher descansava em uma poltrona.
De repente, levantou-se. Colocou as mãos nas têmporas e tentou ensaiar alguns passos em direção ao outro aposento. O odor imperceptível de aura a sufocava.
Parecia que o aposento recendia a rosas e todos os móveis giravam à sua volta.
Era impossível tentar deter aquela energia. Expandia-se cada vez mais, bastava para isso estar próximo, bem próximo à mulher.
E eu participava incógnito de todo esse ritual.
Simplesmente estava ali, incapacitado de ação. Preso em minha obscuridade. Uma leve lufada de vento fez uma gata que dormitava em cima de uma almofada, mexer com seus enormes bigodes. Continuando seu caminho a energia conduzia sua placidez até onde pudesse firmar seus raios absorventes.
A atmosfera criada passava despercebida para a mulher, mas, não inteiramente para a gatinha que agora esticava o pescoço tentando adivinhar o que seria aquilo que se escondia de seus olhos e ao mesmo tempo passeava pela sala displicentemente.
A mulher murmurou:
“-parece que a sala ta cheia de gente”.
Seria por volta das duas horas da manhã que o efeito se desencadearia.
A luz da sala tremulou rapidamente enquanto uns pequenos estalidos eram ouvidos dentro do ambiente. Alguns gatos, percebendo as ondas tectônicas abriram os olhos desmesuradamente. Os bigodes agitando-se acompanhavam o movimento do apêndice da coluna em riste.
Moléculas de ectoplasma avolumavam-se à minha frente, fluindo de um buraco negro. O caos do inatingível, um mergulho apavorante ao centro de um nada.
Bestices que servem de invólucro à memória que