Futebol é religião? - A espiritualidade e sua multiplicidade contextual
No Brasil, há um dito que se tornou uma crença popular do bom senso de que política, religião e futebol não se discutem. Entretanto, longe de contrariar a afirmativa, é possível observar características em comum, chegando a coexistirem num mesmo espaço, nas mais variadas formas de expressão da espiritualidade.
A presente observação não participativa ocorreu no estádio Morenão, na cidade de Campo Grande, no dia 10 de março de 2013, um domingo – o dia de descanso, de lazer e mesmo de culto a Deus, para boa parte dos brasileiros. A partida entre Cene, de Campo Grande, e Misto, de Três Lagoas, era válida pelo Campeonato Sul-Mato-Grossense e teve um público de cerca de 500 pessoas.Ver uma partida de futebol é diferente de torcer por um time de futebol? O envolvimento entre time e torcida atinge níveis elevados de paixão.
Como já dito, o time do Misto é da cidade de Três Lagoas, distante aproximadamente 400 km de Campo Grande. Longe de ser um sucesso de público, o que se viu foi tamanho engajamento por parte de várias pessoas – ônibus foram fretados - que enfrentaram uma viagem cansativa para apoiar o time da cidade em uma competição de pouca expressão nacional. Foi possível presenciar bandas, famílias, mulheres uniformizadas, bandeiras, crianças, tereré e cerveja. Cantigas foram entoadas, numa aparente tentativa de dar suporte ao time, como se a equipe em campo necessitasse de “algo” além das quatro linhas. “Vamos, vamos, Misto! Vamos, vamos, Misto!”
Havia certa organização, também sendo possível identificar algumas lideranças. Essas lideranças ditavam o ritmo, a intensidade e a devoção da torcida, que a plenos pulmões cantava frases como “e ninguém cala esse nosso amor.” Essa busca pela transcendência através da reunião em família, entre amigos, do esporte, do lazer, em determinados momentos atinge níveis que podem levar a uma