Fundamentos da bioética
Maria do Céu Patrão Neves. Doutora em Filosofia, Professora Auxiliar de Nomeação Definitiva do Departamento de Filosofia da Universidade de Açores Portugal. Tomando como ponto de partida o processo histórico do suprimento da Bioética e os diversos fatores que moldaram o seu desenvolvimento, procuraremos apontar e definir as diferenças mais significativas entre a perspectiva anglo-americana e a perspectiva européia. Colocando-nos ao nível da fundamentação, referiremos alguns dos mais destacados modelos de análise teórica para defender que a tradição personalista e humanista européia conduz à afirmação da antropologia como fundamento da Bioética. UNITERMOS - Bioética, antropologia, perspectiva anglo-americana, perspectiva européia, pessoa. Quando, pela primeira vez, me sentei nos bancos da escola para aprender o que era a Bioética, sua natureza, objetivos e métodos, fui surpreendida pelo ponto de partida genericamente adotado e que moldava toda a reflexão futura. Sem atender à distinção essencial entre ética e moral¹, partia-se de afirmações enraizadas na tradição filosófica tomadas como princípios, nos quais eu não via mais que simples regras de ação. Estava no Kennedy Institute of Ethics, da Georgetown University, em Washington D.C., e a perspectiva de análise definia-se por "principalismo"². É claro que a minha opção por estar ali não fora fortuita. Afinal, após anos de empenhada curiosidade e investigação amadorística, encontrava-me agora na origem mesmo, no berço da Bioética, onde podemos dizer que ela nasceu e onde certamente foi embalada e se desenvolveu naquilo que ainda hoje é, na maior parte do mundo em que é praticada. Todavia, tinha dificuldade em compreender o que ouvia. Duvidava, mas não em excesso porque queria aprender; procurava os mestres para trocar impressões, mas falando pouco para não revelar o meu ceticismo. Perguntava sobretudo, e quase