Freud
Já vimos na literatura, Machado de Assis nos deixar em dúvida, Jorge Amado nos deixar com certeza, mas o assunto é o mesmo: adultério. O adultério está para o amor segundo as regras como o tubo de ensaio está para a ciência: um receptáculo de experiências. É uma forma de se ter uma hipótese, de se improvisar: “E se...”
Ou de assumir um risco conceitual. Mas a questão nesse conto não é quem traiu. A traição houve, é fato. A questão maior está com que foi traído. Na psicanálise, as pulsões são consideradas impulsos oriundos de uma fonte somática, que buscam inscrever-se no universo psíquico e encontram expressão através do desejo. O desejo, por sua vez, se dá a conhecer através de representações, constituídas de imagens e conteúdos ideativos que configuram as fantasias. Neste sentido, também o superego faz uma identificação entre ação e desejo, pois basta que o ego se dirija a um objeto interditado (e nesse caso é Dona Silivana), para que a culpa oriunda da vigilância do superego venha desempenhar um lugar privilegiado na formação das neuroses. O problema de uma Lei impossível de cumprir, é o montante de culpa que ela será capaz de mobilizar. Nesse conto as pessoas envolvidas e responsáveis no ato da traição em si, parecem ser as menos presas a pudores ou ainda, menos culpados.
O que é relevante aqui são outras duas personagens: Turíbio Todo e Timpim Vinte-e-Um. Turíbio, o marido traído, é a explicação mais previsível, mais lugar-comum que podemos usar para ilustrar o recalque, segundo Freud. Turíbio, a todo momento, tem consciência do que está acontecendo e decide que aquela não é a hora de “acertar as contas”. Ele conhece Cassiano, provavelmente imagina que não sairia vitorioso de um confronto. O ato de Turíbio sair dali e pensar no acontecido nos faz pensar no que pode vir a seguir, ora, ao expulsar da consciência as primeiras representações intoleráveis associadas à pulsão marca uma cisão da vida