FORMAÇÃO ECONOMICA
É a partir dessas referências que se pode entender as realizações do autor de A economia colonial do Brasil nos séculos XVI e XVII em variados domínios. O mais interessante é como as próprias circunstâncias de Celso Furtado permitiram, ao nível do pensamento, uma notável articulação entre as grandes correntes de interpretação da experiência brasileira e a atividade no interior do aparelho de Estado e de organismos internacionais, tornou possível, no plano da prática, a tradução dessas idéias em ação2.
O filho do juiz maçom anticlerical compensa, por esforço próprio, a precariedade da educação a que teve acesso no interior do Nordeste brasileiro, convertendo a desvantagem inicial em ganho, já que pôde contar com sua enorme criatividade3. Imaginação que será precisamente sua maior característica profissional e que motivará o decano dos economistas neoclássicos brasileiros, Eugênio Gudin, a comentar que deveria ser romancista e não economista.
Ironicamente, desde cedo, o autoditadismo permitirá a Furtado escapar à rigidez acadêmica, combinando, de forma rica, algumas das maiores influências do pensamento brasileiro: o positivismo, o marxismo e a antropologia norte-americana. Fez bom uso de cada uma dessas tradições intelectuais, selecionando alguns de seus aspectos mais relevantes: a crença no conhecimento científico, do positivismo; a consciência da historicidade dos fenômenos econômicos e sociais, do marxismo; a atenção, desde a leitura de