Forma e lugar de genesis 3
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Goiânia, v. 19, n. 1/2, p. 91-109, jan./fev. 2009.
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Resumo: o texto busca descrever a forma da narrativa de Gênesis
3, bem como atribuir um lugar mais provável para o surgimento deste texto na história da religião hebraica. Basicamente defende-se que o texto é uma narrativa mítica, cujo conteúdo imaginário estabelece um confronto entre o Deus dos hebreus e a serpente, elemento simbólico catalizador do mal representativo da diversidade religiosa distoante da oficial. Com isso o texto propõe um dualismo incipiente. O horizonte dos produtores do texto deve ser situado no período do chamado pós-exílio, portanto, no século V-IV a.C., na província de Judá. O texto constitui peça importante para a consolidação do monoteísmo oficial entre os antigos hebreus.
Palavras-chave:
Gêneses, mito, monoteísmo, diversidade religiosa, dualismo FAZENDO MEMÓRIA
C
om Milton Schwantes, meu mestre em exegese bíblica, aprendi que um estudo sobre Gênesis 3 deve começar com uma postura de respeito, como aliás deve se ter em relação a todo texto sagrado. Numa antiga apostila nos tempos das aulas de Antigo Testamento na Faculdade de Teologia, em São
Leopoldo, nos idos anos 80 do século passado, ele escreveu as palavras “com temor e tremor” no topo do estudo sobre os capítulos 2 e 3 de Gênesis, o que persiste com a reedição modificada daquele material (SCHWANTES,
2002). “Estes capítulos vêm marcados por longa história de interpretação”, sendo a “escuta e o diálogo” fundamentais para um bom trabalho exegético
(SCHWANTES, 2002, p. 104). Mas ele também reconhece que o sentido Fragmentos de Cultura
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do texto de Gênesis 3, em geral, está “ocupado” pelas afirmações dogmáticas da teologia cristã. Rebater tais consensos é tarefa demasiado difícil. Como a ‘boa exegese’ se faz em diálogo crítico, o presente estudo se insere nesta tradição de análise crítica de um texto muito conhecido.
A