Fisioterapia
«Não quero brincar» – A avaliação psicológica e diagnóstica em saúde mental infantil
SARA ALMEIDA (*) LEONOR CORRÊA DA SILVA (*) MARGARIDA FORNELOS (*)
Em 1984, o Dr. João dos Santos dizia numa entrevista ao Diário de Notícias (citado por M. E. C. Branco, 2000): «Sempre me interessou mais a ideia do normal do que a do patológico. (...) procurei sempre a compreensão dos mecanismos antes de me interessar pelos sintomas.» Com este trabalho, pretendemos mostrar através da apresentação de um caso clínico, o papel que a Avaliação Psicológica pode desempenhar na compreensão do funcionamento mental infantil.
CASO CLÍNICO
História clínica e familiar Vimos o Manuel a primeira vez na UPI com 4 anos. Era uma criança bonita, com um aspecto cuidado. Tinha um desenvolvimento estato-ponderal adequado à idade, apesar de manter uma postura séria, pouco espontânea. Manifestava
(*) Psicóloga.
uma grande dificuldade no contacto, evitando o olhar e mantendo-se muito próximo dos pais. Reagiu fortemente à presença do estranho e não aceitou separar-se. O Manuel fora enviado à Unidade da Primeira Infância pela sua educadora, para realizar uma avaliação de desenvolvimento já que esta considerava que ele apresentava um «desenvolvimento cognitivo acima da idade, mas manifestava isolamento social e dificuldade de integração no grupo». O Manuel é o primeiro e único filho de um casal jovem, fruto de uma gravidez não planeada, já que os pais se encontravam ainda a viver em casa dos respectivos pais, sem um projecto de vida comum. A gravidez foi descrita pela mãe como tendo corrido bem, sem grandes preocupações porque «estava habituada a bebés, o pai estava mais assustado» (sic). O parto foi de termo sem complicações e os primeiros tempos de vida do bebé são descritos como de grande emoção, apesar do pai se manter preocupado com possíveis doenças e de não lhe pegar durante a primeira semana com receio de o deixar cair. O Manuel foi